sábado, 18 de abril de 2009
Vou-me embora vou partir
Quem nasceu no Alentejo tem o Alentejo dentro de si para sempre. Por isso o Alentejo é infinito. As planícies parecem não ter fim porque não têm fim de facto. Dentro da gente, existem campos com sobreiros e azinheiras, existem rostos enxovalhados pelo sol, pele que tem rugas da terra. Dentro da gente existem searas.O Cante é a voz dessa terra infinita. Os homens descem pelas ruas quando voltam do campo ao fim da tarde. Nos olhares, trazem o pó queimado pelo sol. Nessa hora, pouco antes do sol-pôr, nasce uma aragem nos rostos dos homens. Essa aragem fresca passa pelas pedras das ruas, pela cal das casas onde houve vida e morte, pelos sorrisos, pelas crianças que brincam na rua. O cante é essa aragem.“Os Ganhões” de Castro Verde conhecem o tamanhoi das palavras singelas: terra, sol, Alentejo: palavras imensas: “Os Ganhões” cantam o sentido dessas palavras tão grandes. E as suas vozes, espalhadas sobre a terra, entram dentro da gente e são infinitas.
José Luís Peixoto
a brisa tras-nos vozes
filtradas pela lonjura
que horas são
para além desta calma
ditada pela hora que perdura
Margarida Morgado (in água pródiga)
Por terras do Além-Tejo, perto de Castro Verde na localidade de Casével, a Junta de Freguesia, ergueu este monumento em homenagem ao Cante Alentejano, na Rotunda que recebe os visitantes desta pacata aldeia alentejana
Serpente de Fogo
onde estamos
em que lugar da primavera
perdidos a perdemos
circula pelos campos
nos labirintos perdidos dos jardins
nos interstícios dos caules se recolhe
nas nervuras das humílimas plantas
se acolhe e enuncia
súbita aflora pelos troncos
das árvores quase flor se anuncia
na inesperada cor a encontramos
milagre da vida
mistério da energia
em silêncio meu amor
Margarida Morgado (in água pródiga)
O Imenso Alentejo
Subscrever:
Mensagens (Atom)